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domingo, 30 de setembro de 2012
sábado, 29 de setembro de 2012
sexta-feira, 28 de setembro de 2012
quinta-feira, 27 de setembro de 2012
Herbert Lom, Frustrated Boss of Inspector Clouseau, Dies at 95
Herbert Lom, the handsome and versatile Czech-born actor who could play
Napoleon Bonaparte or a witch hunter with equal aplomb but who was
perhaps best known as Peter Sellers’s frustrated boss in the “Pink Panther” franchise, died on Thursday. He was 95 and lived in London.
His son Alec confirmed his death, The Associated Press reported.
Mr. Lom gained more attention as a reliable character actor than as a
suave leading man, although he was both. His deep-set, mesmerizing eyes
made him the perfect villain in a series of minor films in the early
1940s, and he went on to excel after World War II
and in the 1950s and ’60s in small roles in a variety of genres. In a
career of more than five decades he appeared in more than 100 movies and
television shows.
Born Herbert Charles Angelo Kuchacevich ze Schluderpacheru in 1917 to
upper-class parents in Prague, he became a theater actor and made one
movie in his native Czechoslovakia before emigrating to London in 1939,
just before the Nazis invaded (and shedding more than 40 letters from
his name along the way). His parents survived and later joined him in
London, but his girlfriend died in a concentration camp.
He began his English-speaking acting career at the Old Vic and other
stage companies before landing some impressive film roles, thanks to an
appealingly exotic accent and a sultry gaze. From the outset he was able
to avoid being typecast as the lecherous but irresistible villain,
unlike many other European actors who went to Hollywood in the 1940s.
Mr. Lom’s first major Hollywood successes were “The Seventh Veil”
(1945), in which he played a psychiatrist treating the suicidal young
cousin of a crippled musician played by James Mason, and Jules Dassin’s
noir masterpiece “Night and the City” (1950), in which he played a
chilling but remorseful gangster.
But he flourished in comedy as well — notably alongside Peter Sellers and Alec Guiness in “The Ladykillers”
(1955) and later as the twitchy, long-suffering Chief Inspector
Dreyfus, who is eventually driven insane by Sellers’s bumbling Inspector
Clouseau. He played Dreyfus in seven “Pink Panther” movies, from “A
Shot in the Dark” (1964) to “Son of the Pink Panther” (1993), which was
made 13 years after Sellers’s death and starred Roberto Benigni as
Clouseau’s son.
Mr. Lom also co-starred with Robert Mitchum and Rita Hayworth in “Fire
Down Below” (1957) and played a hoodlum on the make in prewar London in
“No Trees in the Street” (1958). He played Napoleon Bonaparte twice, in
“The Young Mr. Pitt” (1942) and in King Vidor’s ambitious “War and
Peace” (1956). He appeared in epics — as a pirate who leads the slaves
out of Italy in “Spartacus” (1960), and as the Muslim leader Ben Yussuf
in “El Cid” (1961) — and in horror movies.
Mr. Lom had the title role in a not very successful remake of “The Phantom of the Opera” (1962);
he was Van Helsing in “Count Dracula” (1970), one of many movies
starring Christopher Lee as the notorious vampire; and he played a
bloodthirsty witch hunter in 18th-century Austria in the ultra-gory
German-made “Mark of the Devil” (1972), which developed a cult following
for its explicit torture scenes; audiences were handed “stomach
distress bags” at cinemas around the world.
Onstage, Mr. Lom originated the role of the king in the original London
cast of the musical “The King and I” in 1955. On television, he appeared
in the British series “The Human Jungle” in 1963 and 1964 and on “The
Man From U.N.C.L.E.” in 1967.
His two most notable films in the 1980s were “Hopscotch” (1980), a spy
spoof with Walter Matthau and Glenda Jackson, and David Cronenberg’s
“Dead Zone” (1983), in which he played a neurologist to a telekinetic
patient, played by Christopher Walken.
Among the low points of his career was his performance in the disastrous
1985 remake of “King Solomon’s Mines,” which earned him a nomination
for a Razzie Award, given to the worst that Hollywood has to offer. He
had few roles after the 1980s; his last on-screen appearance was a 2004
episode of the British TV series “Marple.”
Mr. Lom also wrote two historical novels, “Enter a Spy: The Double Life of Christopher Marlowe” and “Dr. Guillotine: The Eccentric Exploits of an Early Scientist,” set during the French Revolution, which was optioned as a movie but never made.
Famously private and reclusive for most of his life, Mr. Lom was married
and divorced three times. Besides his son Alec, survivors include a
daughter, Josephine, and another son, Nick. “You know, I always do my
best, no matter the quality of the film,” Mr. Lom once told an
interviewer. “One thing I hate is when directors come to me before
shooting a take and say, ‘Herbert, give me your best!’ And I think: ‘But
it’s my job to give my best. I can’t give anything else.’ ”
From The New York Times
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
terça-feira, 25 de setembro de 2012
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
domingo, 23 de setembro de 2012
sábado, 22 de setembro de 2012
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
terça-feira, 18 de setembro de 2012
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
domingo, 16 de setembro de 2012
sexta-feira, 14 de setembro de 2012
Reacções à entrevista de Pedro Passos Coelho dada na noite desta quinta feira à RTP.
PSD destaca abertura para modelação da TSU e acusa PS de “deriva radical”
O líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, destacou nesta quinta-feira a “abertura do Governo” para aperfeiçoar medidas já anunciadas, nomeadamente a modelação da Taxa Social Única (TSU) de forma a “proteger” quem tem rendimentos mais baixos.
A “entrevista muito esclarecedora” do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, à RTP, demonstrou ainda um chefe de Governo “sereno”, apontou Luís Montenegro, em contraste com a atitude “irresponsável” e de “deriva radical” do líder do PS, António José Seguro, que anunciou o voto contra o Orçamento do Estado para 2013 e admitiu a apresentação de uma moção de censura.
Luís Montenegro destacou a “abertura do Governo”, manifestada por Passos Coelho, para poder aperfeiçoar algumas medidas e “aproximá-las de alguns objectivos, nomeadamente, em termos de justiça social”.
“O senhor primeiro-ministro teve ocasião de se referir à modelação que deve envolver a medida que diz respeito à Taxa Social Única no sentido de proteger aqueles que têm mais baixos rendimentos e também no sentido de que o benefício que é dado às empresas possa chegar à economia e possa chegar aos consumidores, nomeadamente, através da baixa de preços”, argumentou.
“Foi uma entrevista muito esclarecedora, de um primeiro-ministro convicto mas igualmente sereno, que contrasta muito com a atitude bem mais entusiasta, mas muito irresponsável por parte do líder do principal partido da oposição, que hoje mesmo anunciou ao país, antecipadamente, antes de conhecer a proposta de Orçamento do Estado, o respectivo voto contrário”, disse.
O líder da bancada do PSD disse lamentar que “o PS e o seu líder tenham cedido à demagogia e ao populismo mais fácil do momento, que é um momento difícil e grave, em que é preciso ter coragem de afirmar posições e convicções, e tenha preferido o caminho da irresponsabilidade”.
“É lamentável e nós apenas registamos esta deriva radical do PS, que se aproxima do discurso político do Bloco de Esquerda e do PCP”, acusou.
Para Luís Montenegro, Seguro “tem toda a legitimidade para discordar das políticas e das medidas do Governo, mas não tem nenhuma legitimidade para discordar dos objectivos que estão subjacentes a essas políticas, porque os objetivos das políticas e das medidas do Governo estão plasmados num contrato que o Estado português assinou com as entidades que nos estão a financiar”.
PS diz que Passos está em estado de negação
O PS considerou nesta quinta-feira que o primeiro-ministro está em “estado de negação” face à situação do país e revela impreparação, dizendo que na entrevista à RTP não deixou “uma única palavra” aos desempregados e reformados.
A posição foi transmitida pelo vice-presidente de bancada socialista Mota Andrade, em reacção à entrevista do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, à RTP.
“Assistimos à entrevista de um primeiro-ministro impreparado, sempre à defesa e sem soluções para o país, revelando isolamento e estado de negação em relação às dificuldades que os portugueses sentem. Ao longo da entrevista, não houve do primeiro-ministro uma única palavra de esperança para os reformados ou para os desempregados”, acusou Mota Andrade.
Segundo o dirigente da bancada socialista, Pedro Passos Coelho fez “um discurso vazio, sem qualquer nova solução que dê esperança aos portugueses”.
“Temos um primeiro-ministro impreparado. As medidas que este Governo tem tomado e as que agora anuncia não são a solução para o país, sendo antes um problema para o país. Se as medidas do Governo forem concretizadas, dentro de um ano Portugal estará seguramente em maiores dificuldades do que hoje”, sustentou.
Confrontado com as críticas que o primeiro-ministro fez ao secretário-geral do PS, António José Seguro, ao longo da entrevista, Mota Andrade contrapôs que “há limites” para aquilo que diz. “O primeiro-ministro ainda em Agosto disse que 2013 já um ano de crescimento e agora diz exactamente o contrário”, respondeu.
PCP: Passos “assumiu com toda a clareza” política de “baixar salários para pagar a crise
O PCP considera que o primeiro-ministro assumiu nesta quinta-feira “com toda a clareza”, na entrevista à RTP, que o objectivo da política do Governo e do acordo da ajuda externa é baixar salários para “pagar a crise”.
“Para o PCP, há um elemento muitíssimo relevante nesta entrevista. É que o primeiro-ministro assume com toda a clareza que o objectivo deste programa [de ajustamento financeiro] é reduzir os custos do trabalho, reduzindo os salários a quem trabalha para pagar a crise que o capital criou”, disse o deputado comunista João Oliveira, numa declaração aos jornalistas no Parlamento após a entrevista do primeiro-ministro, hoje, à televisão pública.
João Oliveira acrescentou que “isto confirma que o primeiro-ministro está, de facto, empenhado num único objectivo, que é o de empobrecer os trabalhadores e agravar a exploração para resolver os problemas que o capital criou e cuja responsabilidade não quer assumir”.
A entrevista foi, por isso, considerou, “muito clara em relação às intenções do Governo” e “deve ser obrigatoriamente muito clara para os portugueses”.
“A tarefa que se coloca aos portugueses, particularmente aos que são atingidos por estas políticas do Governo, é derrotar este Governo, é derrotar este pacto de agressão [o acordo de ajuda externa] e encontrar uma política alternativa, patriótica e de esquerda como o PCP tem afirmado, para que possamos dar um outro rumo ao país, porque entregues a este tipo de políticas e a este tipo de gente, o país não tem futuro”, acrescentou.
Para o deputado do PCP, esta entrevista “confirmou” ainda “um primeiro-ministro enredado no seu próprio labirinto que fala de sucessos e bons resultados”, apesar da “verdadeira tragédia que há no país de há um ano a esta parte” e quando há “mais divida, mais défice, mais desemprego, menos poder de compra”.
“O primeiro-ministro fala em sucesso, arriscando até usar uma palavra que o ministro das Finanças ontem [quarta-feira] recusou utilizar. E no meio disto tudo não consegue justificar com um único elemento as medidas que anunciou na sexta-feira e que agora procurava defender”, disse.
BE: Passos está “fechado na sua obstinação” e “incapaz de dialogar com o país
O Bloco de Esquerda considera que o primeiro-ministro está “fechado na sua obstinação” e “incapaz” de “reconhecer os erros” e de “qualquer diálogo com o país”, qualificando a entrevista de Pedro Passos Coelho à RTP como “pior do mesmo”.
“É um primeiro-ministro fechado na sua obstinação, não reconhecendo qualquer erro, incapaz de tomar qualquer diálogo com o país”, disse o líder parlamentar do BE, Luís Fazenda, numa declaração aos jornalistas feita no Parlamento.
O dirigente do Bloco sublinhou que Passos Coelho, durante a entrevista de mais de uma hora que deu hoje à televisão pública, não “reconheceu nenhum erro” e insistiu em “não alterar nada em relação à ‘troika’, à política que Portugal tem seguido junto dos credores internacionais”.
“E como tal, isto foi mais do mesmo e é pior do mesmo. É cada vez pior do mesmo”, sublinhou Luís Fazenda.
Para o líder parlamentar do BE, o primeiro-ministro devia ter reconhecido “o fracasso da receita da ‘troika’ [Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional]” e “o erro da alteração da Taxa Social Única”, por ser “uma transferência direta do trabalho para o capital” que é “imoral e irracional”.
Por outro lado, acrescentou, “o primeiro-ministro não explicou a derrapagem orçamental” e “inclusivamente ameaçou com outras medidas de austeridade para o futuro”.
“O senhor primeiro-ministro, de facto, o que hoje conseguiu fazer foi um incentivo extraordinário às mobilizações sociais e às mobilizações populares, que se anunciam, de contestação a esta política do Governo e uma tentativa de que o povo português consiga que este Governo vá embora”, acrescentou. Segundo Luís Fazenda, só com a substituição do executivo Portugal pode “ter a esperança de renegociar a divida”, de “rasgar” o acordo assinado com os credores internacionais e de “encontrar caminhos alternativos de desenvolvimento”.
Verdes: Passos Coelho “prometeu o inferno” e “vive no mundo da lua”
O Partido Ecologista Os Verdes considera que o primeiro-ministro “abriu a porta” a mais austeridade e “prometeu o inferno” aos portugueses na entrevista de hoje à RTP, acusando ainda Pedro Passos Coelho de “viver no mundo da lua”.
A deputada Heloísa Apolónia disse aos jornalistas no Parlamento que, no final da entrevista, Passos Coelho “abriu completamente a porta ao anúncio de mais medidas de austeridade”, acrescentando “que um primeiro-ministro que faz isto na situação calamitosa em que o país e encontra é um primeiro-ministro que oferece e promete o inferno”.
“Eu julgo que o primeiro-ministro não tem consciência da situação dramática em que o país se encontra, não pode. É um primeiro-ministro que vive, necessariamente, no mundo da lua”, afirmou.
Heloísa Apolónia acrescentou que a entrevista “preocupou muito” os Verdes também “pelo autoritarismo que o primeiro-ministro manifestou”, sublinhando que Passos Coelho afirmou “que foi escolhido para pensar pela sua cabeça”.
“Não, não, a maioria foi escolhida e daí saiu um primeiro-ministro justamente para atenuar uma situação dramática de austeridade em que o anterior Governo nos estava a afundar. E este Governo chega, apesar das promessas que fez, contrariou-as todas e afundou ainda mais o país e aumentou mais essa austeridade”, acrescentou.
A deputada ecologista considerou que Passos Coelho “não convenceu absolutamente ninguém” na entrevista e “embrulhou-se completamente em relação à mexida na Taxa Social Única”.
“Ninguém percebe nada disto e não se pode compreender, porque é de tal maneira injusto que é incompreensível e não é explicável”, afirmou Heloísa Apolónia.
13.09.2012 - 23:30 Por Lusa
quinta-feira, 13 de setembro de 2012
quarta-feira, 12 de setembro de 2012
terça-feira, 11 de setembro de 2012
Mentiras, falsidades e omissões
Políticos, intelectuais, colunistas, comentadores, pronunciam-se muitas vezes sobre o serviço público de televisão (SPTV) e sobre a RTP usando números e pressupostos que não correspondem à realidade, e que, por isso, viciam o debate e as conclusões. Um artigo recente de Marques Mendes (MM) é disso um bom exemplo. Sobretudo porque tendo tutelado a pasta da TV no período em que se cometeram as primeiras decisões que começaram a endividar a RTP (fim da taxa e obrigação de venda ao desbarato dos emissores), MM revela, 20 anos depois, que não soube aprender com os erros que teriam sido fáceis de evitar na altura e que, hoje, deveriam ser-lhe fáceis de reconhecer.
Vejamos o que escreveu MM.
1. "Em termos de programação, nada distingue a RTP das suas concorrentes privadas."
Só por ignorância, cegueira ou má-fé se pode fazer esta afirmação. E, vindo de quem vem, é grave. A verdade é que não há paralelo possível entre a grelha da SIC e da TVI, que têm uma "programação horizontal" (a mesma programação ao longo da semana), e os canais públicos (RTP1 e 2), que têm uma grelha "vertical" (programas diferentes nos vários dias da semana, especialmente no prime time). Seria ocioso explicar-lhe esta nuance que toda a gente que domina estas matérias conhece; mas, para alguém que teve responsabilidades políticas nesta área, é grave. Depois, porque, como alguém disse, "os canais públicos dirigem-se aos cidadãos, os comerciais aos consumidores".
Mas porque será que a RTP não é melhor? Primeiro, porque nenhum governo, até hoje, lhe quis assegurar a independência política nem económica, como exige a Constituição. E o que é que o PSD fez, durante os anos em que foi governo, e mesmo na oposição, para melhorar a sua independência e o seu desempenho?
Segundo, porque os administradores, desde há 20 anos para cá, são gestores com formação económica, mas nenhum sentido do que seja televisão e muito menos serviço público.
Depois, porque a RTP tem vivido sempre na incerteza sobre o montante e a origem do seu financiamento, o que a torna vulnerável às interferências comercias, instável sobre a encomenda de programas e sem recursos financeiros para produzir obras de qualidade (nomeadamente na área da ficção, onde o nosso défice é colossal, e que é aquilo precisamente que é caro em TV, mas que é uma das faces distintivas da programação).
Finalmente, porque o escrutínio do seu desempenho é muito débil. Com os poucos poderes que tem, o Conselho de Opinião não tem capacidade para acompanhar a programação e muito menos para se fazer ouvir.
Mas, como governante e na oposição, MM tem imensas responsabilidades naquilo de que, agora, se queixa.
2. "A RTP Internacional é medíocre."
O que se diz atrás vale também para a RTP I, que, obviamente, não está isenta de críticas, mas que cumpre um serviço que só uma estação pública pode assegurar. Como se reconhece, aliás, em todos os países da UE e em todos os textos da Comissão, Parlamento e Conselho, alguns dos quais, enquanto ministro, MM subscreveu. Será também ocioso lembrar-lho.
3. Os "défices e mordomias" da RTP.
Quanto aos défices, eles foram o resultado inevitável de políticas desastrosas, irresponsáveis e lesivas do erário público, conduzidas quer pelos governos PSD (de que MM fazia parte) quer por governos do PS, sobretudo o do Eng. Guterres, que decidiu reduzir o tempo de publicidade à RTP1 e eliminá-la na 2, sem ter depois liquidado integralmente as "indemnizações compensatórias" que inscreveu no orçamento para a compensar dessa perda. A dívida passada da RTP é, por isso, quase na totalidade, uma dívida do Estado e não da empresa.
Quanto às mordomias, era bom que MM se explicasse: quais e onde? E se existem (o que admito), é altura de lhe perguntar: o que fez o PSD, no poder ou na oposição, para lhe pôr cobro?
4. O "fardo financeiro."
Está respondido atrás. E não deixa de ser curioso que tenha sido um ministro do seu partido, Nuno Moraes Sarmento (NMS), durante o curto consulado de Durão Barroso, a resolver os problemas criados, como vimos, pelos governos anteriores, e a sanear a empresa. É lamentável que este Governo não tenha aprendido com o seu exemplo.
5. "Estado bom e privado mau", que MM considera "um resquício da Revolução a inquinar o debate"!
Como diz judiciosamente Paula Teixeira da Cruz, do seu partido (mas que não toma o seu partido): "Está por provar que o sector privado (...) tenha maior eficiência que o sector público." Ao Estado o que é do Estado, ao mercado o que é do mercado. O Estado tem de gerir bem as empresas estratégicas que são necessariamente públicas; ou porque são "monopólios naturais", ou porque o mercado, só por si, não consegue assegurar as obrigações pelas quais o Estado deve zelar: na educação, na saúde, na justiça. E na televisão.
Quanto aos "resquícios da Revolução", pergunto-me: a que se refere MM, com azedume e desprezo? Ao 25 de Abril?
6. "A SIC Notícias, a TVI 24 e a TSF prestam um bom serviço público."
MM confunde os canais temáticos de acesso condicionado com os canais free to air, os únicos que estão em discussão. É uma confusão grave para quem teve a tutela da televisão e que, lamentavelmente, alguns políticos, intelectuais e comentadores cometem levianamente.
7. As restantes diatribes e acusações relevam do mesmo preconceito, da mesma ignorância e da mesma demagogia. Citemos algumas pérolas: "O desprezo pela coerência e pelo dinheiro público." "As rendas de milhões pagas à RTP." "Uma empresa que custa ao erário público quatro vezes mais do que todo o orçamento da Secretaria de Estado da Cultura." "Respeito pelos contribuintes."
MM é um homem arguto e um político experiente e com responsabilidades. Também por isso, além de rigor, ficava-lhe bem um pouco de recato e de pudor neste debate.
Sobre o buraco financeiro que NMS encontrou em 2002, remeto para os pontos 3 e 4. Mas esgrimir argumentos com expressões como "rendas de milhões", ou com comparações com outros orçamentos (em que país da Europa o orçamento da cultura é comparável ao da televisão pública?), carece de seriedade. A RTP, com os seus 17 canais, custa aos portugueses 27 euros por ano, uma das contribuições mais baixas da Europa, para mais tendo em conta os seus limites apertados no acesso à publicidade.
A "indemnização compensatória" foi um estratagema encontrado pelo Governo em que MM participou para escamotear a medida populista de abolir a taxa; e aumentada, depois, pelo Governo de Guterres para compensar a entrega de uma fatia importante da publicidade à SIC e à TVI.
Com NMS, a publicidade que restava ficou cativa para pagar essa dívida do Estado para com a RTP, uma vez que, como vimos, o Governo de Guterres não pagara grande parte das verbas que inscreveu no orçamento. Muito haveria a acrescentar. Mas era preciso que houvesse aqui interesse num debate sério e esclarecedor e não a tentativa de proteger o ministro Relvas, cujos anúncios sobre o futuro do SPTV pecam, no mínimo, pela falta de coerência - a mesma coerência que ele exige aos seus interlocutores.
ANTÓNIO-PEDRO VASCONCELOS in Diario de Noticias 10/09/12
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
quinta-feira, 6 de setembro de 2012
segunda-feira, 3 de setembro de 2012
domingo, 2 de setembro de 2012
Nós, os neandertais, os denisovanos e como tudo se complicou
Evolução humana
A ponta de um dedo veio evidenciar ainda mais que, se há coisa que não é
simples, é a história da evolução humana. Descoberto em 2008 na gruta
Denisova, nos montes Altai, Sibéria, o pequeno osso da falange era
afinal de um grupo de humanos desconhecido - os denisovanos, que viveram
até há 30 mil anos. E se as surpresas não chegassem, também eles, tal
como os neandertais, se reproduziram com a nossa espécie. Uma equipa
publica nesta sexta-feira, na revista Science, a análise do
genoma completo dos denisovanos, a partir do fragmento de dedo: dentro
de nós há um pouco de neandertal e de denisovano, é verdade, mas a
genética revelou agora uma nova teia de migrações e relações complexas
entre nós e estes dois humanos já extintos.
A equipa de Svante Pääbo, do Instituto Max Planck para a Antropologia Evolutiva, Alemanha, já tinha ficado surpreendida com o que representava a descoberta da falange e de dois dentes molares. Quando os cientistas sequenciaram o ADN das mitocôndrias (as baterias das células), herdado só da parte da mãe e que está fora do núcleo celular, perceberam que era um novo grupo de humanos. O osso é de uma menina de cinco a sete anos de idade, que viveu há 80 mil anos. Tinha a pele escura, cabelos e olhos castanhos.
Em Maio de 2010, a revelação da sua existência espantou o mundo e, em Dezembro desse ano, a equipa de Pääbo avançava com a publicação de um primeiro rascunho do ADN do núcleo. Dizia já que os denisovanos se tinham misturado connosco e que a herança desse passado "promíscuo" não era igual em toda a Terra. Os europeus têm ADN dos neandertais, mas não têm material genético dos denisovanos, que por sua vez deixaram a sua pegada genética para os lados das ilhas da Melanésia.
No meio desta viagem à história da evolução humana através do ADN, a equipa de Pääbo disponibilizou na Internet, no início deste ano, toda a sequenciação do genoma dos denisovanos, para quem a quisesse usar na investigação. A leitura deste ADN antigo já era bastante rigorosa, graças a um método desenvolvido por Matthias Meyer, também do Instituto Max Planck, que permite ler até 30 vezes as letras do genoma (pequenas moléculas que compõem a grande molécula de ADN). Agora, a equipa aprofunda na Science as reflexões sobre essa informação e faz mais revelações, comparando o genoma da nossa espécie (os humanos modernos), dos denisovanos e dos neandertais.
"Pudemos confirmar que parentes de um indivíduo da gruta Denisova contribuíram geneticamente para os antepassados das pessoas actuais na Nova Guiné, mas esse fluxo genético não afectou o resto das pessoas da Eurásia continental, incluindo o Sudeste da Ásia continental", disse um dos autores do artigo, o geneticista David Reich, da Faculdade de Medicina de Harvard, numa conferência organizada pela revista. "No entanto, é claro que os denisovanos contribuíram com 3% a 5% de material genético para os genomas das pessoas da Austrália, Nova Guiné, os nativos das Filipinas e de algumas ilhas das redondezas. A confirmação foi muito forte", acrescentou.
Como se explica que o material genético dos denisovanos não se encontre sequer na Ásia continental, onde viveram, como mostra a falange e os dentes? "Diria que a mistura entre os denisovanos e os antepassados dos habitantes da Melanésia, Papuásia-Nova Guiné e aborígenes australianos deu-se provavelmente no Sudeste da Ásia continental. Quando os antepassados dos humanos modernos chegaram a essa área, encontraram-se com os denisovanos, misturaram-se e depois partiram para colonizar a Melanésia", disse Pääbo.
E agora vem a última descoberta, aquela que complica tudo. Envolve os neandertais, extintos há cerca de 28 mil anos e que durante mais de 150 anos estiveram no centro da polémica sobre se eles e nós tínhamos feito sexo e deixado descendentes. Sim, tinham já concluído outros estudos de Pääbo.
"As pessoas das regiões Leste da Eurásia [Ásia] e os nativos americanos têm mais material genético dos neandertais do que as da Europa, apesar de os neandertais terem vivido sobretudo na Europa, o que é mesmo muito interessante", considerou David Reich. "Vemos que há uma contribuição dos neandertais ligeiramente superior na Ásia do que na Europa- em cerca de 20% -, o que é surpreendente, porque os neandertais viveram na Oeste da Ásia e na Europa", acrescentou Pääbo.
Como aconteceu isto? De início, pensava-se que tinha havido um único intercâmbio genético entre neandertais e humanos modernos, que saíram de África há cerca de 50 mil anos. Talvez quando os dois tipos de humanos se encontraram no Médio Oriente. Depois a nossa espécie espalhou-se pelo mundo inteiro e teria levado consigo essa herança.
"Agora tudo se tornou mais complicado com os neandertais", disse Pääbo. "Vemos que toda a gente fora de África teve uma contribuição dos neandertais. A maneira mais simples de explicar isto é que algo ocorreu assim que os humanos modernos saíram de África, se encontraram com os neandertais no Médio Oriente e se misturaram com eles."Como hipóteses, a equipa diz que pode ter havido uma segunda mistura entre humanos modernos e neandertais na Ásia Central, reforçando aí a carga genética destes. Ou a contribuição genética dos neandertais na Europa foi diluída com a chegada tardia de humanos modernos vindos de África e que não tinham um pouco de Neandertal no genoma.
31.08.2012 - 12:09
Por Teresa Firmino
Espancamento de palestiniano por adolescentes judeus provoca debate
02.09.2012 - 11:15
Por Maria João Guimarães
Foi um incidente isolado ou é o "novo normal"? O que quer dizer sobre a
sociedade israelita, os seus jovens, a violência racista no país? E
sobre os políticos?
O ataque violento de um grupo de nove adolescentes judeus, todos menores
excepto um de 19 anos, a um palestiniano de 17 anos, deixou o país em
choque e à procura de respostas.
Porque é que naquela noite o grupo de israelitas perseguiu Jamal Julani, um palestiniano de 17 anos, o agrediu e pontapeou perante dezenas de pessoas que assistiam à violência, deixando-o inconsciente e quase morto - na verdade, foi reanimado pelos serviços de emergência que entretanto foram chamados à Zion Square, onde tudo aconteceu.
Os media não largaram a história, e os adolescentes foram formalmente acusados na terça-feira, pouco mais de uma semana após a agressão.
O professor de Sociologia da Universidade de Telavive Giora Rahav explicou, numa conversa com o PÚBLICO, que a grande atenção dada ao caso tem a ver só parcialmente com o seu grau de violência. Tem ainda a ver com o facto de "a grande maioria dos judeus não quererem violência de civis - a violência é reservada aos militares", sublinha.
Outro factor: "Foi claro neste caso que não houve uma provocação, não houve nada que pudesse de algum modo legitimar a agressão."
Isto, mesmo que o porta-voz da polícia, Micky Rosenfeld, ainda tenha avançado que uma possível explicação poderia ter tido a ver com um ataque de natureza sexual a uma adolescente judia de 15 anos por um grupo de jovens árabes. A adolescente teria ido para junto de um grupo de adolescentes queixar-se.
"Quem quiser mostrar que é um homem venha bater nos árabes", terá dito um dos adolescentes. O grupo começou a gritar "morte aos árabes" e lançou-se numa perseguição contra todos os que foram encontrando - alguns foram expulsos do local, outros fugiram, mas Jamal Julani não conseguiu correr com rapidez suficiente e foi o alvo da violência.
Para Giora Rahav, este "é um caso radical e talvez isolado - o que não quer dizer que não seja baseado numa tendência nacionalista de ódio aos árabes e aos estrangeiros em geral muito generalizada e aceite".
"Este incidente sublinha as tensões que há entre judeus e árabes na sociedade israelita em geral", diz. "A violência baseada no conflito entre judeus e árabes israelitas ou entre judeus e palestinianos é uma presença constante em Israel."
Em tribunal, o principal acusado do grupo, de 15 anos (oito dos nove eram menores, o mais novo tinha 13 anos, entre eles havia duas raparigas), não expressou quaisquer remorsos. "Ele podia morrer, isso não me importa. Ele insultou a minha mãe", disse ao juiz, segundo o diário israelita de grande circulação Yediot Ahronot. "Se o apanhar, bato-lhe. Ele deve morrer. É um árabe."
Quanto à vítima, começou a ouvir falar do que lhe aconteceu pelos media. "Não me lembro nada do incidente e não faço ideia do que é que toda a gente fala", disse ao Yediot Ahronot Jamal Julani quando teve, na semana passada, alta do centro médico onde recuperou, depois de ter passado por um estado de coma. "Só me lembro que ia comprar roupa para a festa [comemorava-se um feriado muçulmano] e depois acordei no hospital."
É ainda de ter em conta o local onde aconteceu. Primeiro, Jerusalém, "a única frente urbana em que palestinianos de Jerusalém Oriental como da Cisjordânia se misturam com a população judaica", sublinha o sociólogo.
Dentro de Jerusalém, fazemos um zoom para a Zion Square: "É um local de encontro para jovens que tem um background de violência e é um ponto central da cidade relativamente perto de Jerusalém Oriental e é ainda muito perto da linha que divide o sector judaico entre ultra-ortodoxos e judeus menos religiosos", comenta Giora Rahav.
"Tem um ambiente muito propício à violência. Este crime tem algumas semelhanças com crimes de ódio nos Estados Unidos ou Rússia ou Inglaterra ou Bélgica", diz ainda o professor da Universidade de Telavive.
Violência intolerável
"Há actos de ódio, criminosos, frequentemente na Cisjordânia, aos quais o público israelita é, em geral, bastante indiferente, porque é longe", nota, pelo seu lado, o professor de Psicologia da Universidade de Haifa Gavriel Salomon, em declarações ao diário francês Le Monde. "De repente, acontece em Israel e isso provoca um choque, porque é perto de casa. Isso as pessoas não podem tolerar."O primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, não reagiu de imediato, criticam alguns jornais. Mas, quando o fez, declarou que este tipo de violência era intolerável.
No entanto, vários peritos dizem que os próprios políticos no Governo têm contribuído, e em muito, para este ambiente com as suas declarações e acções.
Cidadãos de terceira
"O ataque brutal ao adolescente palestiniano é um resultado directo da política discriminatória de Israel", escreveu Yehudit Oppenheimer, directora executiva da ONG israelita Ir Amin, que defende uma "solução estável e justa para Jerusalém".
"Devido a esta política, os jovens que moram em Jerusalém vêem os habitantes palestinianos como cidadãos de terceira classe que não têm quaisquer direitos na esfera pública", argumenta.
Esta atmosfera ultrapassa, porém, as fronteiras municipais de Jerusalém. Por exemplo, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Avigdor Lieberman, já propôs repetidas vezes a transferência dos árabes que vivem em Israel para os territórios palestinianos.
E não são só os palestinianos os alvos desta retórica: o ministro do Interior, Eli Yishai, disse que a expulsão de imigrantes era "uma missão nacional" e defendeu que todos os imigrantes de origem africana fossem expulsos.
O Governo ordenou à polícia que comece a deter imigrantes sudaneses a 15 de Outubro, no que grupos de ajuda a imigrantes têm classificado como uma acção "racista" e que viola a convenção de refugiados da ONU, da qual Israel é signatário. Alguns dos imigrantes sudaneses que Israel quer expulsar são sobreviventes do genocídio no Darfur.
"Há uma ligação directa entre este incidente e a cultura de ódio aos árabes que a direita vem a cultivar há anos", comentou o jornalista Gal Uchovzki ao diário Le Monde. "Quando o primeiro-ministro demora tanto tempo a condenar e a oposição se cala, os autores do linchamento só tiram uma conclusão: as pessoas estão a apoiar-nos."
Porque é que naquela noite o grupo de israelitas perseguiu Jamal Julani, um palestiniano de 17 anos, o agrediu e pontapeou perante dezenas de pessoas que assistiam à violência, deixando-o inconsciente e quase morto - na verdade, foi reanimado pelos serviços de emergência que entretanto foram chamados à Zion Square, onde tudo aconteceu.
Os media não largaram a história, e os adolescentes foram formalmente acusados na terça-feira, pouco mais de uma semana após a agressão.
O professor de Sociologia da Universidade de Telavive Giora Rahav explicou, numa conversa com o PÚBLICO, que a grande atenção dada ao caso tem a ver só parcialmente com o seu grau de violência. Tem ainda a ver com o facto de "a grande maioria dos judeus não quererem violência de civis - a violência é reservada aos militares", sublinha.
Outro factor: "Foi claro neste caso que não houve uma provocação, não houve nada que pudesse de algum modo legitimar a agressão."
Isto, mesmo que o porta-voz da polícia, Micky Rosenfeld, ainda tenha avançado que uma possível explicação poderia ter tido a ver com um ataque de natureza sexual a uma adolescente judia de 15 anos por um grupo de jovens árabes. A adolescente teria ido para junto de um grupo de adolescentes queixar-se.
"Quem quiser mostrar que é um homem venha bater nos árabes", terá dito um dos adolescentes. O grupo começou a gritar "morte aos árabes" e lançou-se numa perseguição contra todos os que foram encontrando - alguns foram expulsos do local, outros fugiram, mas Jamal Julani não conseguiu correr com rapidez suficiente e foi o alvo da violência.
Para Giora Rahav, este "é um caso radical e talvez isolado - o que não quer dizer que não seja baseado numa tendência nacionalista de ódio aos árabes e aos estrangeiros em geral muito generalizada e aceite".
"Este incidente sublinha as tensões que há entre judeus e árabes na sociedade israelita em geral", diz. "A violência baseada no conflito entre judeus e árabes israelitas ou entre judeus e palestinianos é uma presença constante em Israel."
Em tribunal, o principal acusado do grupo, de 15 anos (oito dos nove eram menores, o mais novo tinha 13 anos, entre eles havia duas raparigas), não expressou quaisquer remorsos. "Ele podia morrer, isso não me importa. Ele insultou a minha mãe", disse ao juiz, segundo o diário israelita de grande circulação Yediot Ahronot. "Se o apanhar, bato-lhe. Ele deve morrer. É um árabe."
Quanto à vítima, começou a ouvir falar do que lhe aconteceu pelos media. "Não me lembro nada do incidente e não faço ideia do que é que toda a gente fala", disse ao Yediot Ahronot Jamal Julani quando teve, na semana passada, alta do centro médico onde recuperou, depois de ter passado por um estado de coma. "Só me lembro que ia comprar roupa para a festa [comemorava-se um feriado muçulmano] e depois acordei no hospital."
É ainda de ter em conta o local onde aconteceu. Primeiro, Jerusalém, "a única frente urbana em que palestinianos de Jerusalém Oriental como da Cisjordânia se misturam com a população judaica", sublinha o sociólogo.
Dentro de Jerusalém, fazemos um zoom para a Zion Square: "É um local de encontro para jovens que tem um background de violência e é um ponto central da cidade relativamente perto de Jerusalém Oriental e é ainda muito perto da linha que divide o sector judaico entre ultra-ortodoxos e judeus menos religiosos", comenta Giora Rahav.
"Tem um ambiente muito propício à violência. Este crime tem algumas semelhanças com crimes de ódio nos Estados Unidos ou Rússia ou Inglaterra ou Bélgica", diz ainda o professor da Universidade de Telavive.
Violência intolerável
"Há actos de ódio, criminosos, frequentemente na Cisjordânia, aos quais o público israelita é, em geral, bastante indiferente, porque é longe", nota, pelo seu lado, o professor de Psicologia da Universidade de Haifa Gavriel Salomon, em declarações ao diário francês Le Monde. "De repente, acontece em Israel e isso provoca um choque, porque é perto de casa. Isso as pessoas não podem tolerar."O primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, não reagiu de imediato, criticam alguns jornais. Mas, quando o fez, declarou que este tipo de violência era intolerável.
No entanto, vários peritos dizem que os próprios políticos no Governo têm contribuído, e em muito, para este ambiente com as suas declarações e acções.
Cidadãos de terceira
"O ataque brutal ao adolescente palestiniano é um resultado directo da política discriminatória de Israel", escreveu Yehudit Oppenheimer, directora executiva da ONG israelita Ir Amin, que defende uma "solução estável e justa para Jerusalém".
"Devido a esta política, os jovens que moram em Jerusalém vêem os habitantes palestinianos como cidadãos de terceira classe que não têm quaisquer direitos na esfera pública", argumenta.
Esta atmosfera ultrapassa, porém, as fronteiras municipais de Jerusalém. Por exemplo, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Avigdor Lieberman, já propôs repetidas vezes a transferência dos árabes que vivem em Israel para os territórios palestinianos.
E não são só os palestinianos os alvos desta retórica: o ministro do Interior, Eli Yishai, disse que a expulsão de imigrantes era "uma missão nacional" e defendeu que todos os imigrantes de origem africana fossem expulsos.
O Governo ordenou à polícia que comece a deter imigrantes sudaneses a 15 de Outubro, no que grupos de ajuda a imigrantes têm classificado como uma acção "racista" e que viola a convenção de refugiados da ONU, da qual Israel é signatário. Alguns dos imigrantes sudaneses que Israel quer expulsar são sobreviventes do genocídio no Darfur.
"Há uma ligação directa entre este incidente e a cultura de ódio aos árabes que a direita vem a cultivar há anos", comentou o jornalista Gal Uchovzki ao diário Le Monde. "Quando o primeiro-ministro demora tanto tempo a condenar e a oposição se cala, os autores do linchamento só tiram uma conclusão: as pessoas estão a apoiar-nos."
Desmond Tutu defende que Blair e Bush devem ser julgados em Haia
Bispo sul-africano
Não é uma posição inédita, mas desta vez foi defendida pelo Nobel da Paz Desmond Tutu. Num artigo publicado no diário britânico Observer, o bispo sul-africano, considerado um herói da luta contra o apartheid, defendeu que George W. Bush e Tony Blair devem ser julgados em Haia devido à guerra no Iraque.
Tutu acusou o anterior Presidente norte-americano George W. Bush e o antigo primeiro-ministro britânico Tony Blair de terem mentido sobre a existência de armas de destruição maciça e disse que a guerra naquel país tornou o mundo mais instável, mais "do que qualquer outro conflito na história". As acusações não surpreenderam Blair, que já as terá ouvido inúmeras vezes. "É o mesmo argumento que ouvimos muitas vezes", reagiu, citado pela BBC.
No início desta semana, o bispo sul-africano recusou-se mesmo a liderar um painel de uma conferência em Joanesburgo em que participava Tony Blair. Agora, Tutu defende que a campanha para derrubar o regime de Saddam Hussein em 2003 abriu caminho à guerra civil na Síria e a um possível conflito no Médio Oriente que envolva o Irão. Bush e Blair "levaram-nos para a beira do precipício, onde nos encontramos agora, com o espectro da Síria e do Irão diante de nós", escreveu Desmond Tutu.
No artigo, o bispo sul-africano refere mesmo alguns números relacionados com a guerra no Iraque – "6,5 pessoas morrem todos os dias em ataque suicidas e em explosões de veículos. Mais de 110.000 iraquianos morreram no conflito e milhões foram deslocados" –, para depois defender que "os responsáveis por este sofrimento e estas perdas de vidas humanas deveriam seguir o mesmo caminho de alguns dos seus pares africanos e asiáticos que respondem pelos seus actos no tribunal de Haia".
Desmon Tutu considera que os bons dirigentes devem ser também "guardiões da moral". "A questão não é saber se Saddam Hussein era bom ou mau, ou quantas pessoas do seu povo massacrou. A questão é que Bush e Blair nunca deveriam ter descido a esse nível de imoralidade."
Blair defendeu-se em comunicado, considerando "bizarro" dizer-se que o facto de Saddam Hussein ter massacrado centenas de milhares de iraquianos é "irrelevante". E adiantou: "Temos na memória os massacres de Halabja, onde milhares de pessoas foram assassinadas num dia pelo uso das armas químicas de Saddam, e da guerra entre o Irão e o Iraque, em que as mortes chegaram a um milhão, muitas delas causadas por armas químicas."
02.09.2012 - 17:48 Por Isabel Gorjão Santos, com agências
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