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sexta-feira, 13 de julho de 2012

A t-shirt do Che Guevara é a vitória dos porcos capitalistas

Henrique Raposo (www.expresso.pt) 
8:00 Quinta feira, 12 de julho de 2012

De forma cíclica, a cada verão, surgem várias coisas no dia-a-dia do bairro: as alemãs e demais nórdicas com escaldões na pele destroikizada, as nativas com roupa mais descapotável e a ingenuidade política da malta que faz questão de vestir aquilo que pensa. Sim, sem dar por isso, um sujeito fica rodeado por aquelas t-shirts do Che Guevara, envergadas por miúdos sem acesso a champô e água corrente, apesar de terem um iphone no bolso das calças rasgadas. Ao vestirem aquela t-shirt, estes desguedelhados do papá acham que estão a dar uma alfinetada no sistema, mas, na verdade, estão a ser ratinhos de laboratório daquilo que Marx apelidava de "capitalismo".   
Em 2012, Che é um mito só por causa dos tais porcos capitalistas. Aquela t-shirt é um bem produzido, publicitado e comercializado como qualquer outro. Ou será que os nossos neo-hippies (com o tablet na mochila rasgada) fazem as suas próprias t-shirts com o tear esquecido da avó? E, para reforçar a ligação entre o mito do Che e o "capitalismo", convém registar que a t-shirt só é um sucesso no velho Ocidente (EUA e Europa Ocidental), isto é, no mundo que nunca conheceu de perto as delícias teológicas do comunismo. Nos países que ainda são comunistas, a malta não tem t-shirts, nem do Che, nem de ninguém. Nos países que fizeram a transição do comunismo para a sociedade liberal, a t-shirt do Che é um objecto ofensivo, tão ofensivo como um símbolo fascista na Europa Ocidental. É que a malta de Praga sabe uma coisa que a malta de Lisboa desconhece: andar com uma t-shirt de um assassino não é uma cena cool.