Pesquisar neste blogue

segunda-feira, 4 de junho de 2012

China nunca irá começar a Terceira Guerra Mundial

por LEONÍDIO PAULO FERREIRA 04/05/12


A primeira vítima da Terceira Guerra Mundial foi John Birch. Assim o inventou a direita americana, fanática na busca de mártires anticomunistas. O capitão Birch, filho de batistas e ele próprio missionário antes de se tornar soldado e espião ao serviço dos Estados Unidos, foi morto pelas tropas de Mao a 25 de agosto de 1945, dez dias depois do fim da Segunda Guerra Mundial. Passadas sete décadas, América e China são as grandes potências mundiais. Mas é impensável que façam guerra uma à outra. Um conflito global seria o pior que aconteceria às duas economias líderes.
Agora que a corrida aos armamentos pela China assusta é indesmentível. O orçamento militar cresceu 11% no ano passado, para os 106 mil milhões de dólares. Não admira que no sábado o vice-ministro da Defesa japonês tenha criticado a falta de transparência do regime de Pequim nas matérias militares. E que o ministro da Defesa indiano garantisse que à medida que a China se arma também o seu país continuará a reforçar-se.
Preocupados estão ainda Vietname e Filipinas, com contenciosos marítimos, e sobretudo Taiwan, a ilha onde se refugiaram em 1949 os nacionalistas de Chiang Kai-shek derrotados por Mao.
Vistos da América, os gastos militares chineses são quase migalhas. Há tempos, a Economist alertava para "os novos dentes do dragão", mas lembrando que o gigante asiático gasta sete vezes menos do que os Estados Unidos no complexo militar-industrial. Em percentagem do PIB, a relação é de um para quatro.
Tirando o maior número de soldados da China, a vantagem dos americanos é esmagadora: 450 mísseis intercontinentais contra 66, 14 submarinos nucleares com mísseis contra três, 6300 tanques contra 2800, 3000 aviões de última geração contra 750, 11 porta-aviões contra nenhum, 61 satélites militares contra 36.
É óbvio que Pequim não deseja a guerra. Nunca ganharia. Falta ainda à China uma década para ultrapassar o poderio económico da América e duas para a paridade militar. O objetivo hoje é garantir que na Ásia não existem rivais, como no tempo em que em redor do Império do Meio só havia Estados vassalos, e reduzir a manobra dos Estados Unidos em caso de confronto com Taiwan. Pelo meio, assegura as rotas para o abastecimento de matérias-primas e comércio.
Em Washington também ninguém deseja a guerra. O candidato republicano Romney está preocupado é com a concorrência económica da China. E o Presidente Obama prefere Pequim como parceiro, seja a estabilizar o Paquistão e o Afeganistão seja a acalmar as ambições nucleares da Coreia do Norte.
Depois de Birch, chineses e americanos chacinaram-se na Guerra da Coreia. E voltaram a enfrentar-se no Vietname. Mas desde que Nixon visitou Mao, em 1972, existe uma aliança estratégica que só falha quando os interesses da potência emergente chocam com os da velha superpotência - como acontece na revolta na Síria ou no nuclear iraniano.
A verdadeira guerra entre China e América envolve dólares e yuans. É económica. E aí, sim, as armas asiáticas revelam-se mais certeiras que as americanas.

in dn.pt

Sem comentários: