por LEONÍDIO PAULO FERREIRA 04/05/12
A primeira
vítima da Terceira Guerra Mundial foi John Birch. Assim o inventou a
direita americana, fanática na busca de mártires anticomunistas. O
capitão Birch, filho de batistas e ele próprio missionário antes de se
tornar soldado e espião ao serviço dos Estados Unidos, foi morto pelas
tropas de Mao a 25 de agosto de 1945, dez dias depois do fim da Segunda
Guerra Mundial. Passadas sete décadas, América e China são as grandes
potências mundiais. Mas é impensável que façam guerra uma à outra. Um
conflito global seria o pior que aconteceria às duas economias líderes.
Agora
que a corrida aos armamentos pela China assusta é indesmentível. O
orçamento militar cresceu 11% no ano passado, para os 106 mil milhões de
dólares. Não admira que no sábado o vice-ministro da Defesa japonês
tenha criticado a falta de transparência do regime de Pequim nas
matérias militares. E que o ministro da Defesa indiano garantisse que à
medida que a China se arma também o seu país continuará a reforçar-se.
Preocupados
estão ainda Vietname e Filipinas, com contenciosos marítimos, e
sobretudo Taiwan, a ilha onde se refugiaram em 1949 os nacionalistas de
Chiang Kai-shek derrotados por Mao.
Vistos da América, os gastos militares chineses são quase migalhas. Há tempos, a Economist alertava
para "os novos dentes do dragão", mas lembrando que o gigante asiático
gasta sete vezes menos do que os Estados Unidos no complexo
militar-industrial. Em percentagem do PIB, a relação é de um para
quatro.
Tirando o maior número de soldados da China, a vantagem
dos americanos é esmagadora: 450 mísseis intercontinentais contra 66, 14
submarinos nucleares com mísseis contra três, 6300 tanques contra 2800,
3000 aviões de última geração contra 750, 11 porta-aviões contra
nenhum, 61 satélites militares contra 36.
É óbvio que Pequim não
deseja a guerra. Nunca ganharia. Falta ainda à China uma década para
ultrapassar o poderio económico da América e duas para a paridade
militar. O objetivo hoje é garantir que na Ásia não existem rivais, como
no tempo em que em redor do Império do Meio só havia Estados vassalos,
e reduzir a manobra dos Estados Unidos em caso de confronto com Taiwan.
Pelo meio, assegura as rotas para o abastecimento de matérias-primas e
comércio.
Em Washington também ninguém deseja a guerra. O
candidato republicano Romney está preocupado é com a concorrência
económica da China. E o Presidente Obama prefere Pequim como parceiro,
seja a estabilizar o Paquistão e o Afeganistão seja a acalmar as
ambições nucleares da Coreia do Norte.
Depois de Birch, chineses e
americanos chacinaram-se na Guerra da Coreia. E voltaram a enfrentar-se
no Vietname. Mas desde que Nixon visitou Mao, em 1972, existe uma
aliança estratégica que só falha quando os interesses da potência
emergente chocam com os da velha superpotência - como acontece na
revolta na Síria ou no nuclear iraniano.
A verdadeira guerra entre China e América envolve dólares e yuans. É económica. E aí, sim, as armas asiáticas revelam-se mais certeiras que as americanas.
in dn.pt
Sem comentários:
Enviar um comentário