por FERREIRA FERNANDES
Mas que mal fez o candidato presidencial liberiano Winston Tubman (já para não falar no seu candidato a vice-presidente, George Weah, goleador do Milan, melhor futebolista do mundo, 1995) para que, em plena campanha eleitoral - e a quatro dias das eleições!!! -, a sua adversária ganhe um prémio internacional mítico e as aberturas de telejornais de todo o mundo? Num país pobre e democracia instável, que lambe as feridas de guerra civil recente, não é um abuso, essa interferência? O Nobel da Paz, a maior medalha mundial de bom comportamento cívico, foi dado à actual Presidente Ellen Johnson Sirleaf e recandidata à reeleição, e ao mesmo tempo esse prémio influencia ilegitimamente os resultados eleitorais... Há mais de 150 anos, a Libéria foi criada por manipulação externa - um dia a América acordou com problemas de consciência pela escravatura negra e decidiu inventar um país na Costa Ocidental de África com escravos de torna-viagem. Agora, em igual manobra de desprezo, o Nobel mete-se no destino dos liberianos. Nem terá sido por mal, se calhar o comité de sábios só ignorava que havia eleições. Mas quem mostra premiados exemplares ao mundo não deveria estar atento a esse mundo? Se o Nobel da Paz queria premiar Sirleaf, que a premiasse antes (quando ela já o merecia), não na semana em que incomoda a Libéria. É assustador que coisas tão importantes e badaladas como dar um Nobel sejam feitas tão à Lagardère.
Fonte: dn.pt
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sábado, 17 de setembro de 2011
Repensar a Europa
O conformismo é o maior problema que a União Europeia hoje enfrenta. A "ideologia europeia", que foi durante décadas um símbolo do futuro, tornou-se numa amálgama de impasses, de dogmas e de preconceitos, incapaz de pensar tudo o que belisque os seus interesses.
As ideologias são assim, têm períodos de vitalidade e fases de declínio. E a sua decadência revela-se sempre num sintoma preciso: é quando as respostas aparecem antes das perguntas, e as soluções se impõem antes de se conhecerem os problemas. A União Europeia está nesta fase. E a deriva deste último ano e meio parece aproximá-la cada vez mais do colapso, não se vendo nada que a faça arrepiar caminho, como o Conselho Europeu da semana passada veio confirmar.
Nem a iminência de uma explosão na Grécia, tão vítima de si própria como da ortodoxia do programa que lhe foi prescrito no ano passado, já que, como há dias sublinhava Martin Wolf no Financial Times, a actual situação grega é - ao contrário do que tantas vezes se diz - mais resultado da ineficácia do plano da troika, do que do seu incumprimento. Nem o alerta do FMI, a chamar a atenção não só para o possível contágio europeu a partir da situação grega, mas também para o risco de contágio global a partir da crise do euro. Nem a convergência sino-americana, com a China a sublinhar num tom inédito a "importância crucial" que para ela tem uma rápida solução da crise grega, e os Estados Unidos a reclamarem o imperativo de uma estratégia "a uma só voz" da União Europeia.
Apesar de todos estes alertas e apelos, a que é ainda precisa juntar o espectro de uma "tempestade perfeita" que poderá resultar, nos próximos tempos, da combinação da crise da dívida europeia com o risco de incumprimento dos EUA (a dívida americana ultrapassou já os 14 mil milhões de dólares), a inflação chinesa e a estagnação japonesa - apesar de tudo isto, a União Europeia continua paralisada.
Paralisada e a pisar ovos em cima da premonitória frase de Theo Waigel, o antigo ministro das Finanças alemão que prometeu aos seus concidadãos que "der euro spricht deutsch". E, entretanto, agudiza-se o impasse entre as duas saídas para a crise, a federal e a nacional, com o federalismo sempre a perder terreno desde os chumbos de 2005 aos referendos à "constituição" europeia, e o nacionalismo a ganhar constantemente novos adeptos por toda a Europa, seja em Inglaterra ou na Holanda, na Hungria ou na Finlândia.
É por isso urgente quebrar o conformismo de chumbo que se instalou na UE, que se arrisca a transformar a crise da dívida numa devastadora crise da própria Europa e que, acentuando a deslegitimação das suas incompetentes lideranças, terá consequências e proporções difíceis de antecipar. E para quebrar este conformismo e os seus dogmas, só há um modo: é o de voltar à "grande" política, isto é, às ideias que podem mudar o actual estado de coisas. E que terão de ser tão ousadas como fundamentadas.
Tal só será possível cortando com a ideologia sem ideias em que se tornou a "vulgata europeia", e elaborando uma nova agenda para a Europa. Uma agenda que exija que a Comissão Europeia deixar de se comportar como um dócil secretariado de um Conselho Europeu dominado pela Alemanha. Uma agenda que leve os líderes dos países europeus a falarem mais vezes e mais demoradamente entre si, e com as respectivas opiniões públicas, de modo a encontrarem e a formularem alternativas à ortodoxia dominante. Uma agenda capaz de federar os interesses e as ideias de diversos países, sem medo de confrontar a Alemanha ou de visar os seus pontos fracos. Uma agenda que avance com iniciativas credíveis e com propostas ambiciosas, e que abra os indispensáveis debates sobre as novas circunstâncias da globalização, os paradoxos do livre-cambismo, as opacidades da "financeirização" da economia ou o interminável (e contraproducente) alargamento da União.
E é muito que se pode fazer, com iniciativas de variada ordem: política, económica, financeira, social, cultural. Uma delas, e das mais urgentes, deveria neste momento ser relativa ao valor do euro, cuja excessiva valorização nos últimos dez anos tem beneficiado sobretudo à Alemanha, e a dois ou três aliados, e prejudicado todos os demais países da Zona Euro. E esta valorização teve, é preciso sublinhá-lo, um papel decisivo na perda de competitividade de diversas economias europeias, e na eclosão da crise das dívidas soberanas. (Note-se, a propósito, que a Inglaterra desvalorizou a libra, durante a crise financeira dos últimos anos, em cerca de 20%, sem que a inflação tenha ultrapassado 1,6%...)
Este é um dos caminhos por onde é possível e urgente avançar, se realmente quisermos que o euro fale outras línguas para lá do alemão. Outros, por exemplo, são a unificação da dívida (como Roosevelt fez em 1932), a emissão de "eurobonds" e a criação de um ministério das finanças europeu. A Europa precisa de uma nova agenda que só um franco e vigoroso o debate de ideias poderá viabilizar, criando condições para que se enfrente uma especulação que se faz cada vez mais à margem de todas as regras, e que está a tornar o mundo numa verdadeira selva.
Fonte: dn.pt
As ideologias são assim, têm períodos de vitalidade e fases de declínio. E a sua decadência revela-se sempre num sintoma preciso: é quando as respostas aparecem antes das perguntas, e as soluções se impõem antes de se conhecerem os problemas. A União Europeia está nesta fase. E a deriva deste último ano e meio parece aproximá-la cada vez mais do colapso, não se vendo nada que a faça arrepiar caminho, como o Conselho Europeu da semana passada veio confirmar.
Nem a iminência de uma explosão na Grécia, tão vítima de si própria como da ortodoxia do programa que lhe foi prescrito no ano passado, já que, como há dias sublinhava Martin Wolf no Financial Times, a actual situação grega é - ao contrário do que tantas vezes se diz - mais resultado da ineficácia do plano da troika, do que do seu incumprimento. Nem o alerta do FMI, a chamar a atenção não só para o possível contágio europeu a partir da situação grega, mas também para o risco de contágio global a partir da crise do euro. Nem a convergência sino-americana, com a China a sublinhar num tom inédito a "importância crucial" que para ela tem uma rápida solução da crise grega, e os Estados Unidos a reclamarem o imperativo de uma estratégia "a uma só voz" da União Europeia.
Apesar de todos estes alertas e apelos, a que é ainda precisa juntar o espectro de uma "tempestade perfeita" que poderá resultar, nos próximos tempos, da combinação da crise da dívida europeia com o risco de incumprimento dos EUA (a dívida americana ultrapassou já os 14 mil milhões de dólares), a inflação chinesa e a estagnação japonesa - apesar de tudo isto, a União Europeia continua paralisada.
Paralisada e a pisar ovos em cima da premonitória frase de Theo Waigel, o antigo ministro das Finanças alemão que prometeu aos seus concidadãos que "der euro spricht deutsch". E, entretanto, agudiza-se o impasse entre as duas saídas para a crise, a federal e a nacional, com o federalismo sempre a perder terreno desde os chumbos de 2005 aos referendos à "constituição" europeia, e o nacionalismo a ganhar constantemente novos adeptos por toda a Europa, seja em Inglaterra ou na Holanda, na Hungria ou na Finlândia.
É por isso urgente quebrar o conformismo de chumbo que se instalou na UE, que se arrisca a transformar a crise da dívida numa devastadora crise da própria Europa e que, acentuando a deslegitimação das suas incompetentes lideranças, terá consequências e proporções difíceis de antecipar. E para quebrar este conformismo e os seus dogmas, só há um modo: é o de voltar à "grande" política, isto é, às ideias que podem mudar o actual estado de coisas. E que terão de ser tão ousadas como fundamentadas.
Tal só será possível cortando com a ideologia sem ideias em que se tornou a "vulgata europeia", e elaborando uma nova agenda para a Europa. Uma agenda que exija que a Comissão Europeia deixar de se comportar como um dócil secretariado de um Conselho Europeu dominado pela Alemanha. Uma agenda que leve os líderes dos países europeus a falarem mais vezes e mais demoradamente entre si, e com as respectivas opiniões públicas, de modo a encontrarem e a formularem alternativas à ortodoxia dominante. Uma agenda capaz de federar os interesses e as ideias de diversos países, sem medo de confrontar a Alemanha ou de visar os seus pontos fracos. Uma agenda que avance com iniciativas credíveis e com propostas ambiciosas, e que abra os indispensáveis debates sobre as novas circunstâncias da globalização, os paradoxos do livre-cambismo, as opacidades da "financeirização" da economia ou o interminável (e contraproducente) alargamento da União.
E é muito que se pode fazer, com iniciativas de variada ordem: política, económica, financeira, social, cultural. Uma delas, e das mais urgentes, deveria neste momento ser relativa ao valor do euro, cuja excessiva valorização nos últimos dez anos tem beneficiado sobretudo à Alemanha, e a dois ou três aliados, e prejudicado todos os demais países da Zona Euro. E esta valorização teve, é preciso sublinhá-lo, um papel decisivo na perda de competitividade de diversas economias europeias, e na eclosão da crise das dívidas soberanas. (Note-se, a propósito, que a Inglaterra desvalorizou a libra, durante a crise financeira dos últimos anos, em cerca de 20%, sem que a inflação tenha ultrapassado 1,6%...)
Este é um dos caminhos por onde é possível e urgente avançar, se realmente quisermos que o euro fale outras línguas para lá do alemão. Outros, por exemplo, são a unificação da dívida (como Roosevelt fez em 1932), a emissão de "eurobonds" e a criação de um ministério das finanças europeu. A Europa precisa de uma nova agenda que só um franco e vigoroso o debate de ideias poderá viabilizar, criando condições para que se enfrente uma especulação que se faz cada vez mais à margem de todas as regras, e que está a tornar o mundo numa verdadeira selva.
Fonte: dn.pt
sexta-feira, 2 de setembro de 2011
Portugal vai mal, mas a União Europeia, pior
por MÁRIO SOARES17 Maio 2011
1. A generalidade dos portugueses, depois das últimas semanas que passámos - e tendo consciência do que nos espera, após termos algum conhecimento das exigências da troika - deve pensar que a situação portuguesa vai mal, sobretudo perante o autismo de alguns políticos e economistas. Mas o futuro da União Europeia, a que pertencemos, parece desenhar-se ainda pior.
Se não me engano, os próximos tempos vão agravar a decadência e a incapacidade de reacção dos principais dirigentes políticos europeus. Na realidade, perante as dificuldades extremas das políticas internas dos respectivos Estados, Angela Merkel, Nicolas Sarkozy, Silvio Berlusconi, David Cameron e outros, menos relevantes, parecem cegos e recusam-se a ver a decadência efectiva, em que a União Europeia, como um todo, se encontra relativamente ao futuro próximo.
A opinião pública europeia, até agora demasiado passiva, começa a dar sinais inquietantes, quanto ao que está para vir. A Grécia e a Irlanda, após as ajudas tardias e demasiado restritivas da União Europeia, não melhoraram nada. Pelo contrário. Surgiu, entretanto, o caso português e, embora a troika tenha, ao que parece, aprendido alguma coisa e, consequentemente, tenha aberto um pouco mais os cordões à bolsa, não será o suficiente para evitar a recessão que nos ronda.
O resultado é que, como a União não definiu, até agora, perante a crise global que nos afecta, uma estratégia global para pôr os mercados especulativos na ordem, como devia, outros Estados membros podem, com grande probabilidade, vir a ser atacados pela insaciável avidez dos mercados especulativos e das agências de rating. Estão nessa fila Estados como: a Bélgica, a Espanha, a Itália e talvez mesmo a França. Aí não haverá troikas capazes de fazer milagres. A União Europeia - e as suas burocráticas instituições, tão retrógradas - terão de mudar de modelo de desenvolvimento, rapidamente, ou entrarão numa irremediável decadência, senão mesmo em desagregação. Seria o fim de um projecto único, invejado em todos os continentes, que trouxe às populações europeias a paz, o bem-estar, a justiça social, o aprofundamento democrático e dos direitos humanos. Ora a responsabilidade dessa tragédia, se vier a suceder, cairá, indiscutivelmente, sobre os actuais dirigentes europeus...
Muitos portugueses viram certamente um filme extraordinário de oportunidade, intitulado Inside Job - A Verdade da Crise. Mostra os efeitos das bolhas especulativas, a falta de regulação da globalização, as economias virtuais, os paraísos fiscais, as grandes negociatas, sem ética, os mercados especulativos, sem princípios nem crédito, cada vez mais agressivos e impunes, que atacam velhos Estados nacionais, ajudados pelas empresas de rating, igualmente sem regras, valores ou moral. Tudo isso foi e é causa e consequência da grave crise global, cujos responsáveis ficaram, em geral, impunes, que começou nos Estados Unidos e se alargou à Europa e a outros continentes. Está longe, aliás, de ter sido vencida, tanto nos Estados Unidos como na União Europeia.
Se não me engano, os próximos tempos vão agravar a decadência e a incapacidade de reacção dos principais dirigentes políticos europeus. Na realidade, perante as dificuldades extremas das políticas internas dos respectivos Estados, Angela Merkel, Nicolas Sarkozy, Silvio Berlusconi, David Cameron e outros, menos relevantes, parecem cegos e recusam-se a ver a decadência efectiva, em que a União Europeia, como um todo, se encontra relativamente ao futuro próximo.
A opinião pública europeia, até agora demasiado passiva, começa a dar sinais inquietantes, quanto ao que está para vir. A Grécia e a Irlanda, após as ajudas tardias e demasiado restritivas da União Europeia, não melhoraram nada. Pelo contrário. Surgiu, entretanto, o caso português e, embora a troika tenha, ao que parece, aprendido alguma coisa e, consequentemente, tenha aberto um pouco mais os cordões à bolsa, não será o suficiente para evitar a recessão que nos ronda.
O resultado é que, como a União não definiu, até agora, perante a crise global que nos afecta, uma estratégia global para pôr os mercados especulativos na ordem, como devia, outros Estados membros podem, com grande probabilidade, vir a ser atacados pela insaciável avidez dos mercados especulativos e das agências de rating. Estão nessa fila Estados como: a Bélgica, a Espanha, a Itália e talvez mesmo a França. Aí não haverá troikas capazes de fazer milagres. A União Europeia - e as suas burocráticas instituições, tão retrógradas - terão de mudar de modelo de desenvolvimento, rapidamente, ou entrarão numa irremediável decadência, senão mesmo em desagregação. Seria o fim de um projecto único, invejado em todos os continentes, que trouxe às populações europeias a paz, o bem-estar, a justiça social, o aprofundamento democrático e dos direitos humanos. Ora a responsabilidade dessa tragédia, se vier a suceder, cairá, indiscutivelmente, sobre os actuais dirigentes europeus...
Muitos portugueses viram certamente um filme extraordinário de oportunidade, intitulado Inside Job - A Verdade da Crise. Mostra os efeitos das bolhas especulativas, a falta de regulação da globalização, as economias virtuais, os paraísos fiscais, as grandes negociatas, sem ética, os mercados especulativos, sem princípios nem crédito, cada vez mais agressivos e impunes, que atacam velhos Estados nacionais, ajudados pelas empresas de rating, igualmente sem regras, valores ou moral. Tudo isso foi e é causa e consequência da grave crise global, cujos responsáveis ficaram, em geral, impunes, que começou nos Estados Unidos e se alargou à Europa e a outros continentes. Está longe, aliás, de ter sido vencida, tanto nos Estados Unidos como na União Europeia.
Voltando à União Europeia, os Estados nacionais salvaram os bancos, para evitar as consequências de falências em série. Mas agora estão eles a ser atacados e a receber empréstimos das instituições comunitárias, a juros elevadíssimos, para reduzir os endividamentos e os défices, públicos e privados.
Contudo, na maior parte dos casos, os Estados não podem defender-se das recessões económicas, que começam a sentir-se, dada a fúria gananciosa dos mercados especulativos. Resultado: mais desemprego, mais desigualdades, mais fome, nos casos extremos e mais mal-estar social...
Muitos economistas conhecidos, entre os quais alguns Nobel, têm vindo a chamar a atenção dos dirigentes europeus para o esgotamento da ideologia neoliberal - responsável pela crise global - e para a impunidade dos seus principais responsáveis, com raras excepções. Há poucos meses, a Associação Francesa de Economia Política lançou um manifesto, assinado por diversos economistas, curiosamente intitulado "manifesto dos economistas aterrorizados". O seu objectivo não era condenar o capitalismo, mas tão-só a fase que atravessa, com a ditadura absoluta do capital financeiro, sobre a política e os Estados soberanos, continuando a permitir a actividade dos mercados especulativos, sem regras nem ética.
E acrescenta: "A retoma económica foi possível, frágil mas real, graças a uma injecção colossal de fundos públicos no circuito económico (desde os Estados Unidos à China)." E sublinha: "Apenas um Continente continua em retracção: a Europa." Porquê? "Porque o caminho do crescimento económico deixou de ser a sua prioridade política, enveredando por outra via: a luta contra os défices públicos." Por isso, insisto eu, os Estados europeus estão a viver momentos muito difíceis, mesmo os que, como a Alemanha, têm economias consideradas fortes. Mas se o euro vier a ser destruído - como pretendem os mercados especulativos - como poderá subsistir a Alemanha ao arrepio da União Europeia? Voltará ao marco? Sinceramente, não creio que seja possível.
Da 'troika' às eleições
Contudo, na maior parte dos casos, os Estados não podem defender-se das recessões económicas, que começam a sentir-se, dada a fúria gananciosa dos mercados especulativos. Resultado: mais desemprego, mais desigualdades, mais fome, nos casos extremos e mais mal-estar social...
Muitos economistas conhecidos, entre os quais alguns Nobel, têm vindo a chamar a atenção dos dirigentes europeus para o esgotamento da ideologia neoliberal - responsável pela crise global - e para a impunidade dos seus principais responsáveis, com raras excepções. Há poucos meses, a Associação Francesa de Economia Política lançou um manifesto, assinado por diversos economistas, curiosamente intitulado "manifesto dos economistas aterrorizados". O seu objectivo não era condenar o capitalismo, mas tão-só a fase que atravessa, com a ditadura absoluta do capital financeiro, sobre a política e os Estados soberanos, continuando a permitir a actividade dos mercados especulativos, sem regras nem ética.
E acrescenta: "A retoma económica foi possível, frágil mas real, graças a uma injecção colossal de fundos públicos no circuito económico (desde os Estados Unidos à China)." E sublinha: "Apenas um Continente continua em retracção: a Europa." Porquê? "Porque o caminho do crescimento económico deixou de ser a sua prioridade política, enveredando por outra via: a luta contra os défices públicos." Por isso, insisto eu, os Estados europeus estão a viver momentos muito difíceis, mesmo os que, como a Alemanha, têm economias consideradas fortes. Mas se o euro vier a ser destruído - como pretendem os mercados especulativos - como poderá subsistir a Alemanha ao arrepio da União Europeia? Voltará ao marco? Sinceramente, não creio que seja possível.
Da 'troika' às eleições
2. Portugal ainda mal digeriu as "receitas" da troika - que parecem pouco claras aos olhos da maioria dos portugueses - e os partidos lançaram-se logo numa agressiva competição eleitoral, em que se discute tudo menos o essencial: como é que os vencedores das eleições, se os houver, num só partido ou associados, irão resolver os gravíssimos problemas com que serão enfrentados? Refiro-me ao descontentamento geral, ao desemprego, à precariedade do trabalho, às manchas de fome, que estão a alargar-se por todo o território nacional, à diminuição das pensões, sobretudo para os idosos, às dificuldades com que terão de haver-se no que se refere ao Serviço Nacional de Saúde, ao ensino público, às pequenas e médias empresas, aos cortes exigidos, perante o despesismo habitual do Estado, das regiões autónomas e das autarquias?
Nenhum líder partidário se debruçou, que se saiba, até agora, sobre esta temática, para responder aos problemas que mais inquietam os portugueses. Cometem um erro grave. Porque os eleitores não gostam que os responsáveis partidários se injuriem ou que só pensem nos interesses dos seus partidos e não nos do povo português, que é afinal quem conta e decide, através do voto.
As oscilações das sondagens, com o sobe e desce dos diferentes partidos, são sintomáticas. Há, no eleitorado, uma grande inquietude quanto ao nosso futuro colectivo. Com razão. Ora, se os partidos não querem debater sobre o que se vai passar depois das eleições, o voto passa a ser algo de volátil, porventura mesmo fazendo crescer a abstenção. O que é perigoso em todos os sentidos e não só no da consolidação da democracia.
Entre os líderes, Paulo Portas, que é indiscutivelmente inteligente, tem sido o mais contido, até no tom da fala. Mas cometeu o erro, no último debate, de se apresentar como um possível primeiro-ministro, atitude a que só a vaidade o poderá ter empurrado. A improbabilidade dessa hipótese só o desfavorece. Fernando Nogueira, dixit, com razão...
Passos Coelho, tem-se apresentado como demasiado neoliberal, posição de que muitos militantes do PSD não gostam nada. O Partido, que se saiba, ainda se chama Social Democrata, apesar de pertencer ao Grupo Popular ou Populista dos partidos conservadores do Parlamento Europeu. Tem deixado e ainda bem, para os socialistas, a porta aberta ao Estado social. Tema a que Sócrates, atinadamente, nunca tem deixado de se referir, com o devido entusiasmo.
Nenhum líder partidário se debruçou, que se saiba, até agora, sobre esta temática, para responder aos problemas que mais inquietam os portugueses. Cometem um erro grave. Porque os eleitores não gostam que os responsáveis partidários se injuriem ou que só pensem nos interesses dos seus partidos e não nos do povo português, que é afinal quem conta e decide, através do voto.
As oscilações das sondagens, com o sobe e desce dos diferentes partidos, são sintomáticas. Há, no eleitorado, uma grande inquietude quanto ao nosso futuro colectivo. Com razão. Ora, se os partidos não querem debater sobre o que se vai passar depois das eleições, o voto passa a ser algo de volátil, porventura mesmo fazendo crescer a abstenção. O que é perigoso em todos os sentidos e não só no da consolidação da democracia.
Entre os líderes, Paulo Portas, que é indiscutivelmente inteligente, tem sido o mais contido, até no tom da fala. Mas cometeu o erro, no último debate, de se apresentar como um possível primeiro-ministro, atitude a que só a vaidade o poderá ter empurrado. A improbabilidade dessa hipótese só o desfavorece. Fernando Nogueira, dixit, com razão...
Passos Coelho, tem-se apresentado como demasiado neoliberal, posição de que muitos militantes do PSD não gostam nada. O Partido, que se saiba, ainda se chama Social Democrata, apesar de pertencer ao Grupo Popular ou Populista dos partidos conservadores do Parlamento Europeu. Tem deixado e ainda bem, para os socialistas, a porta aberta ao Estado social. Tema a que Sócrates, atinadamente, nunca tem deixado de se referir, com o devido entusiasmo.
Passos Coelho, por outro lado, tem tido alguma pouca sorte com as pessoas que tem escolhido. Há vários exemplos, mas basta dar um: o prof. Eduardo Catroga, antigo ministro das Finanças de Cavaco Silva. Tem sido de uma inusitada agressividade para com os seus adversários, principalmente do PS. Num debate público, televisivo, foi de uma impertinência que incomodou os ouvintes e saiu-se com um palavrão que não se pode pronunciar, como se dizia no meu tempo, à frente de senhoras... Mas disse-o, tranquilamente, confessando depois ao i, numa entrevista, que sua esposa o admoestou, segundo as suas palavras. Porque, cito: "Quando sair à rua contigo vou ficar envergonhada." O caso, realmente, não é para menos...
Assim vai a campanha eleitoral, neste início tão turbulento e incerto do mês de Maio. Os palpites sobre os resultados são, segundo tenho ouvido, bastante variados. As previsões são difíceis. Mas o que mais me preocupa - e julgo que aos portugueses na sua maioria - é o que se vai passar no day after. A imprevisibilidade está generalizada, dado que os partidos que assinaram o relatório da troika continuam a não se entender. E deviam fazê-lo, e oxalá ainda o façam, a bem do interesse nacional. Lembrem-se de que, em política, nunca se deve dizer que uma coisa é impossível!
Fonte: dn.pt
Que senhor!!! Nunca fui fã dele mas "isto" esta soberbo.
Assim vai a campanha eleitoral, neste início tão turbulento e incerto do mês de Maio. Os palpites sobre os resultados são, segundo tenho ouvido, bastante variados. As previsões são difíceis. Mas o que mais me preocupa - e julgo que aos portugueses na sua maioria - é o que se vai passar no day after. A imprevisibilidade está generalizada, dado que os partidos que assinaram o relatório da troika continuam a não se entender. E deviam fazê-lo, e oxalá ainda o façam, a bem do interesse nacional. Lembrem-se de que, em política, nunca se deve dizer que uma coisa é impossível!
Fonte: dn.pt
Que senhor!!! Nunca fui fã dele mas "isto" esta soberbo.
segunda-feira, 13 de junho de 2011
domingo, 2 de janeiro de 2011
Presidenciais 2011
Mas que ricas eleiçoes vamos ter!!!
Qual dos candidatos ganha a taça de pior?
Fernando Nobre.
Qual ganha a de imbecil?
Poeta Alegre.
Qual ganha a de superpolitico?
Francisco Lopes.
Qual ganha "Mas quem raio é este?"?
Defensor De Moura.
Quem ganha "Ora como quem nao quer a coisa vamos la continuar a servir do tacho."?
Cavaco Silva.
Qual dos candidatos ganha a taça de pior?
Fernando Nobre.
Qual ganha a de imbecil?
Poeta Alegre.
Qual ganha a de superpolitico?
Francisco Lopes.
Qual ganha "Mas quem raio é este?"?
Defensor De Moura.
Quem ganha "Ora como quem nao quer a coisa vamos la continuar a servir do tacho."?
Cavaco Silva.
sábado, 1 de janeiro de 2011
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